As parteiras tradicionais estão preocupadas com o elevado número de casos de gravidez precoce na província moçambicana. A comunidade acusa os professores de assediarem alunas, mas os educadores culpam a pobreza.
No posto
administrativo de Namanjavira, na província da Zambézia, centro de
Moçambique, há parteiras que atendem uma dezena de mães adolescentes por
mês. É o caso de Emilita Refeba, que atende todos os meses cerca de dez adolescentes entre 12 e 14 anos de idade. A parteira está preocupada com o elevado número de casos de gravidez precoce na região.
Muitas vezes,
os partos têm complicações, o que obriga Emilita Refeba a levar as
parturientes a um posto de saúde que fica a pelo menos seis quilómetros
de distância.
Emilita Refeba assiste até dez partos de raparigas por mês
A parteira
conta que há muito tempo salva a vida de jovens mães e bebés. Em
entrevista à DW África, Emilita Refeba mostrou-se muito preocupada com o
aumento de partos entre adolescentes que frequentam o ensino primário.
"Elas vão à
escola e, quando regressam, não sabemos se se envolveram com alguém. Não
sabemos se são os professores que as engravidam ou não. As raparigas
não nos dizem nada, têm medo", diz.
A gravidez
precoce, numa altura em que o corpo das jovens não está ainda preparado,
acarreta várias dificuldades, sublinha a parteira. "Há muitas
complicações em assistir essas mães. Elas têm filhos com 13 e 14 anos.
Não tem sido fácil assistir esses partos. Temos estado noites sem
dormir, os partos variam entre oito a dez por mês. As raparigas não
ouvem os conselhos dos mais velhos."
Faruque Lemos Saote, educador em Namanjavira
Segundo o
Índice de Desenvolvimento Humano de 2016, Moçambique regista uma das
mais elevadas taxas de natalidade entre adolescentes no mundo, com cerca
140 nascimentos em cada mil jovens entre os 15 e os 19 anos de idade.
De quem é a responsabilidade?
Muitos pais e
encarregados de educação na província da Zambézia acusam os professores
de serem responsáveis pela gravidez precoce de muitas raparigas em idade
escolar. Os responsáveis lamentam que não têm como apresentar queixa,
já que vivem longe das sedes das localidades e vilas onde estão os
postos policiais.
"Quando saem de
casa para a escola, há professores que se apaixonam por elas e
enganam-nas. Acabam engravidando as crianças, outras crianças não
conseguem fazer a 5ª e nem a 7ª classe, ficam de barriga", sublinha
Faruque Lemos Saote, encarregado de educação em Namanjavira, no distrito
de Mocuba, província da Zambézia.
Professor Zacarias Olimpo rejeita acusações de assédio
Já o professor
Celso Daniane nega. "Eu não concordo. Existem casamentos prematuros, mas
não com o envolvimento do professor", argumenta. Para o professor, a
pobreza é uma das principais causas do problema de casamento infantil e
gravidez precoce. "A pobreza é um dos fatores que faz com que a criança,
quando vem alguém com dinheiro, não resista à tentação."
O professor
Zacarias Olímpio também rejeita as acusações da comunidade. "Os pais não
ajudam. Tenho visto alguns pais a obrigarem algumas crianças a casarem
mais cedo. Se o professor é educador como é que pode ser o causador
desses problemas?", questiona.
O governador da
Zambézia, Abdul Razak, reconhece o problema e lança um apelo. "Queremos
pedir aos homens que têm capacidade financeira para não fazerem o que
fazem: casar com uma menina que ainda não está preparada para o
casamento. Uma menina de 14 anos ainda não cresceu o suficiente, quer do
ponto de vista biológico quer mental para ser esposa e mãe de uma
família. Vamos deixar a rapariga crescer e estudar", pediu o governador.
Fonte: DW África
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