viernes, 22 de febrero de 2019

OPINIÃO: (Con)vencer nas eleições? Construir o futuro com olhos no passado

É recorrente na Guiné-Bissau a rutura pós-eleitoral no seio dos partidos políticos: o partido vencedor do pleito escolhe os que vão ocupar pastas ministeriais, entre alguns que se empenham mais nas campanhas eleitorais representando as cores do partido, mesmo não tendo competência necessárias e desejáveis para tal, e outros, que investem rios de dinheiro nas atividades partidárias, para depois retirarem dividendos económicos e proteger seus negócios como contrapartida, por via de influências de um poder político que manobra a Justiça em função das suas conveniências, amordaçando, por completo, o poder judiciário.


A “cobrança” pós-eleitoral do investimento no seio do partido vencedor das eleições acaba por ser o principal fator de instabilidade política que afeta o país inteiro e da qual nasce, de imediato, uma nova crise com os “descontentes” que se sentem preteridos nas escolhas e oportunidades de capturar os recursos públicos pelos postos que não conseguiram.

Ainda que as eleições legislativas sirvam para eleger os deputados e o partido que tiver a maioria indicar o primeiro-ministro, talvez tenha chegado a hora de introduzirmos um debate partidário pré-eleitoral em que os partidos terão que deixar tudo bem claro antes da votação. Onde os seus órgãos deverão escolher de antemão quem será, por exemplo, o ministro do Interior, das Finanças, dos Negócios Estrangeiros, Administração Territorial..., sendo essas pastas disputadas pelos dirigentes, mas também, com isso definir previamente, que quem é candidato a deputado não deve almejar fazer parte do governo.

Creio que o partido que conseguir resolver este imbróglio antes das eleições terá condições de garantir a estabilidade governativa. Há muitos que já têm na cabeça que no próximo governo serão ministros e até já assumem compromisso com “parceiros” nesse sentido, e se depois das eleições não forem indicados para os postos? E os ingressos que já receberam para depois favorecer negócios?

O próprio povo guineense precisa não só, de conhecer os programas eleitorais, mas também, quem serão os seus executores. O cidadão eleitor até pode concordar na plenitude com a proposta do partido para um determinado setor, mas se, em caso de vitória eleitoral, o partido chamado a indicar os membros do governo, colocar quem já esteve naquele ministério, aí o próprio cidadão teria a possibilidade de avaliar em que medida as compacidades e o percurso da pessoa constituem elementos convincentes para a sua escolha e nesse caso a orientação do seu sentido de voto, tendo desta forma mais clarividência no sentido do seu voto..

Na próxima legislatura, não podemos falhar. Daí, o trabalho de casa dos partidos concorrentes deve ser bem feito para evitar que os seus problemas venham a ser os do Estado, impedindo a estabilidade política e fomentando divergências no parlamento entre os membros do mesmo partido, bem como as alianças oportunistas e sem base ideológica e ética desrespeitando a expressão do voto popular.

Estamos prestes a realizar eleições legislativas, todavia com os olhos postos nas presidenciais. Seria importante que fossem definidos pelos órgãos dos partidos quem são os candidatos às presidenciais, o que implica que todos os candidatos à Chefia do Estado deveriam ser conhecidos à saída dos congressos, de modo a evitar ruturas que pudessem despoletar, posteriormente, quedas de governos. Há alguns partidos que já definiram os seus candidatos às presidenciais, enquanto que uma maioria ainda está no jogo do rato e do gato, varrendo o lixo para debaixo do tapete, adiando assim o problema, até que ganhe eleições e faça o pretendente sentir-se usado e descartado.

Com a fragilidade das nossas instituições da República, as divergências internas do partido no poder acabam por fazer-se sentir no cerne do Estado, os partidos deveriam ter a coragem de decidir tudo antes de assumirem o concurso ao poder, e a sociedade deveria ter capacidade de impor essa conjuntura enquanto imperativo nacional de construir uma nova esperança com olhos no futuro e numa governação estável, sem corrupção e sem resumir a democracia às guerras de interesses privados que em nada beneficiam o povo, que por sinal, é quem vota.

Mais vale sacrificar um partido do que uma nação inteira. Adiar problemas ou grandes decisões para quando tomar o poder, é adiar o futuro dos guineenses. Não podemos falhar na próxima legislatura.

Braima Darame
22.02.2019

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