Tamilton Gomes Teixeira |
A Guiné-Bissau teve um processo de construção, enquanto Estado, muito difícil. Aqui não falo de pacto social de Rosseau,
mas sim, da luta de povo para povo feita e idealizada por Amílcar
Cabral. Seja como comunidade imaginada (Benedict Andersen), fosse como
fabricação de capitalismo (processo de Vestfália) a Guiné Bissau é um
facto histórico verificável.
Uma nação se faz com homens, mulheres, ideias e aspirações
idiossincráticas. 1975 representa para todos os guineenses algo… a
bandeira nacional e hino constituem para os guineenses um elo de ligação
forte que “supra” as sensibilidades étnicas?.A Guiné-Bissau de Amílcar Cabral foi um projeto de Estado pensado e trabalho no seu prelúdio com amor e entrega (pessoas morreram). Cabral soube compor e organizar as partes num contexto muito difícil e complexo. O que significava Estado para um fula, o que seria nação para um balanta, como entenderia o conceito de pátria um manjaco ou, o que representava para mulher guineense equidade de gênero nos idos anos 60, num território de 99% (FREIRE, 2009) de gente que não sabe ler e escrever nos moldes ocidentais que já dominava aquele século.
Nos anos 60 muito antes e mui longe de pensarmos que o mundo pudesse vir a falar em empoderamento e discussão mais profundas sobre o gênero, Amílcar Cabral ja tinha pautado a questão da mulher como uma preocupação, por isso fez questão de colocar a pauta feminina dentro de Agenda de independência e não relegá-la aos institutos e comissões. Amílcar sustentava de que, o problema da mulher em África encontrava-se numa situação de dupla dominação (Cabral, 1975 – colonialista portuguesa e a própria africana) por isso a libertação de mulher e a sua dominação era condição sine quo non para a verdadeira independência de Guiné e Cabo Verde. Não é por acaso que existia o chamado “destacamento feminina” durante a guerra. O próprio partido de Cabral, tinha como líder e chefes de departamentos e comissões algumas mulheres (Carmem Pereira, Dulce Almada, Francisca e mítica Titina Sila etc). Ora, estamos a falar de idealização de um país, estas coisas são do tempo em que a Guiné-Bissau estava ser germinada enquanto país e nação.
Amílcar Cabral, ainda nos 60, já tinha a compreensão lúcida, de papel que a educação desempenharia no âmbito de “programa maior”, não obstante situação e contexto da guerra, Cabral conseguia, através da sua engenharia política e diplomática, fazer com que vários países concedessem bolsas de estudos e capacitação aos jovens guineenses e cabo-verdianos. Sustentava o seguinte: se nós temos crise, não é porque não chove, não é porque não temos recursos naturais mas, porque temos deficit de educação e para isso apontava já que, a Guiné de futuro passaria necessariamente pelo forte investimento na educação de qualidade.
Cabral sempre entendeu, e era da sua notável compreensão que, a Guiné não poderia seguir caminhos e exemplos dos outros apenas. Sustentava de que, era preciso olhar para nossa realidade e tirar dela a nossa forma de fazer, o nosso modus operandi, aquilo que um docente de Unilab (Ricardino Teixeira), chama de “conhecimento de Guiné-Bissau). Argumentava, fortemente, que agricultura não era base de economia guineense, ela é a economia guineense (Cabral, 1975). No plano diplomático, ainda que no contexto de bipolarização de mundo, Cabral conseguiu catapultar per si, a Guiné Bissau por mundo a fora. Era o tempo em que Guiné tinha credibilidade internacional e respeito diplomático e o mundo tinha carinho pela Guiné-Bissau. Guiné chegou até na sala sagrada e sacramentada de vaticano, Cabral se pôs frente ao sumo pontífice. Na sua visita aos E.U.A, Amílcar Cabral fez chegar a voz do povo guineense, regeu e fez bradar aos microfones de mundo o valor, sentido, vontade e determinação de ser guineense.
No plano administrativo, Cabral soube organizar o prestes baby born, já tinha compreendido o valor e importância de democracia mas sempre respeitando as nossas tradições e forma de ser e estar guineense (partilha), com eleição de comissários de zona ainda que no contexto e inicio de monopartidarismo.
A Guiné-Bissau tinha um líder que esgotava qualquer discussão antes de qualquer resolução e conclusão final (ANDRADE, 1978). Guiné era Guiné. Olov Palmer, ex-premiê sueco, chegou de afirma que, “se Amílcar Cabral não fosse assassinado, Guiné seria Suécia de África”. Contudo, a mim esta frase me incomoda um pouco mas, faz-se compreensível o seu espírito e intenção. Foi fatal e descabido assassinato de Amílcar Cabral, Manuel Alegre (político e escritor português) afirmou ao DW que- a Guiné-Bissau teria morrido com Amílcar Cabral, pois Cabral era própria arma da Guiné. Assassinato de Cabral representa para Guiné e os guineenses uma perda brutal.
Cabral era homem de seu tempo (Lopes, 2004), sabia e compreendia bem as agendas do seu tempo e já binoculava o futuro, ele refletia ontem (História), buscava entender hoje (contexto que se vive) e olhava com preocupação e rigor para amanha (futuro de homens e mulheres da África e da humanidade).
Guiné morreu com Cabral? Não saberia dizer o certo. Manuel Alegre deve ter os seus motivos. Mas que com assassinato de Cabral, Guiné caiu e desmoronou-se pela base, os contextos vividos até agora tem revelado isto: Perdemos a capacidade de organização. Não se discute ideias, discute-se pessoas (Domingos vs Jomav), não se exalta guineendade mas, instrumentaliza-se fulandade, balantandade, mandjacundade etc. Estrangulou-se completamente a possibilidade de construção de uma nação forte e pluri nacional. Vive-se contra tudo aquilo que Amílcar Cabral “pregava”, culto de personalidade, tribalismo, “bulufundadi cu cusa djuntado”, desamor para com a República e pior- a independência resumiu-se a Hino e Bandeira. Foi empobrecido completamento a política.
Guiné-Bissau de hoje é uma sociedade sem rumo, sem aspirações de progresso. Não sou um tanto cético para dizer que não há pessoas capazes e capacitadas para reorganizar a Guiné e emprestá-la de novo o estilo e a charme devida. Eis origem e motivação desse texto: COMO REFAZER ISTO?
Temos uma classe política despreparada (sua maioria), o novo modelo de politico-empresário tem ganhado espaço em detrimento de políticos com capacidade e estratégia que o mundo hoje exige com novas agendas (2063 e 2030). Como disse Lopes, cada vez que determinados grupos ainda que, com certa vontade de refazer as coisas tentam encontrar os mecanismos de saídas, existem sempre forças contrárias para criar barreiras e obstáculos. Entendo que, para recomeçar a Guiné-Bissau, precisar-se-á, antes das próximas eleições, fazer uma série de debates: discutir sobre Democracia e modelos afins, repensar a nossa carta magna devido a excesso de concentração de atribuições e limitações. Discutir sobre a pessoalização de cargos públicos, debater situação de mulher dentro de agenda 63 e colocar questões locais, repensar e discutir leis de quadro de partidos.
Em termos constitucionais, fazer uma discussão profundo, preciso, eficiente e desdobrar mais sobre disposições do Presidente no semi-presidencialismo (caso idem com a de Cabo verde). É preciso fazer entender a quem se pretende candidatar-se a cargo de presidente, que é um cargo supra parte na política nacional e não infra parte. Que ele não tem lugar na discussão politico-partidário, mas que ele é dirimidor das partes, suavizador de conflitos. Isto é necessário para que não venhamos a ter os mesmos problemas de hoje. Futuro presidente de Guiné-Bissau ao meu ver, deveria ser um diplomata ou personalidade com forte presença e aceitação no concerto das nações. E.U.A, CHINA e RÚSSIA, esses países tem respeito nas Relações Internacionais e por isso suas imagens acompanham os seus governantes. No caso guineense deve ser ao contrário, Guiné-Bissau precisaria de alguém que poderia projetá-la para o seu lugar, onde Amílcar Cabral a tinha levado. Alguém com dimensão internacional pois, estamos a falar dum país que não é ouvido por ninguém quase, um país sem prestígio terra pirdi rispitu fep, guineendade i motivo de borgonha. Portanto, os guineenses estão condenados a não falhar nas próximas eleições, não podem aceitar mais candidatos pela simples indicação de partido, no sistema como nosso, presidente necessariamente não tem compromisso com partido. Guineenses precisam olhar para o perfil dos seus futuros e futuras dirigentes. Precisamos de gentes com sentido de ESTADO.
A sociedade civil precisa se organizar mais ainda, nas zonas rurais e urbanas para propor uma pauta própria e responsável. É preciso bradar pela educação, para que assim possamos ter um país bonito, rico, respeitado e cheio de progresso. É necessário construir uma Guiné, onde guineendade estará acima de qualquer outra forma de sentimento. Não sei ao certo, mas talvez seja esta uma das formas de refazer isto.
Por: Tamilton Gomes Teixeira
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