O ex-Presidente da República de Cabo Verde, Pedro Pires, considerou
hoje, na cidade da Praia, que a Guiné-Bissau vive uma crise
institucional resultante de uma interpretação pessoal da Constituição do
país e do desejo de mais poder.
"Na Guiné-Bissau, quando
toda a gente esperava ter ultrapassado as piores situações, nasce um
novo um conflito, mas é um conflito institucional em que o Presidente da
República quer mudar o regime sem ter que fazer a mudança da
Constituição. É uma interpretação pessoal da Constituição ou o desejo
pessoal de ter mais poder", disse Pedro Pires.
As declarações de Pedro Pires, foram feitas hoje, na cidade da
Praia, num painel sobre democracias em desenvolvimento em situações de
fragilidade e conflito, no âmbito do IV Fórum Mundial de Desenvolvimento
Económico Local (FMDEL), que termina sexta-feira.
O antigo chefe de Estado, que moderou ao longo dos tempos várias
tentativas de solução da instabilidade política na Guiné-Bissau,
respondia a uma pergunta da plateia que instava as instituições
internacionais a tomar medidas para resolver definitivamente o conflito
político no país.
Ressalvando que, desde que deixou a Presidência cabo-verdiana, segue "muito menos a situação" na Guiné-Bissau, sublinhou a natureza institucional do conflito.
"Entendo que a crise na
Guiné-Bissau vem precisamente da crise do Estado. As instituições e os
princípios não são devidamente respeitados. Por vezes nas democracias ou
nas democracias imperfeitas temos situações em que as pessoas são mais
importantes que as instituições. Parece-me que é preciso mudar isso para
que as instituições sejam mais importantes que as pessoas, para que as
instituições sejam mais importantes que os titulares dos cargos
políticos. Só assim é possível evitar certos conflitos", apontou.
"Na Guiné-Bissau, o problema
está à volta da interpretação da Constituição e do desejo de alguém
querer estar acima da Constituição e, isso, é inaceitável", acrescentou.
A Guiné-Bissau vive uma situação de instabilidade política desde 2015
com sucessivas alterações de governo que resultaram num impasse
institucional, que segundo um relatório recente da União Europeia está a
enfraquecer as instituições do Estado e a pôr em causa o respeito pelos
direitos humanos.
A influência do desenvolvimento económico local na prevenção de
conflitos foi o tema do painel em que participaram também o comissário
para as Políticas Económicas para a Comunidade Económica de Estados da
África Ocidental (CEDEAO), Mamadou Traore, e o diretor de políticas de
apoio de governo e construção da paz do Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD), Patrick Keulers.
Num painel que integrou ainda o ministro do Interior do Burkina Faso e
os diretores de cooperação da Catalunha e do Haiti, foi consensual a
ideia de que sem paz não existe desenvolvimento e que o desenvolvimento
local, com atenção especial às populações em risco e negligenciadas,
promove a paz e previne conflitos.
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