Organizações
não-governamentais (ONG) que trabalham na Guiné-Bissau vão realizar a
sua terceira conferência, desde a última em 1994.
23 anos depois da sua última reunião, as ONGs a trabalhar na
Guiné-Bissau reúnem-se entre quarta e sexta-feira (18/20.10) na sua
terceira conferência.
"A realização desta conferência inscreve-se numa preocupação de procura
de melhores condições de concertação e valorização do trabalho das
organizações não-governamentais, permitindo um diálogo sobre políticas e
uma intervenção no desenvolvimento e na promoção dos direitos humanos
mais profícuos e eficazes", refere a nota de apresentação do encontro.
A conferência é organizada pela Casa dos Direitos no quadro do projeto
"Articulações e concertações não-governamentais para o desenvolvimento
da Guiné-Bissau" e com o apoio do Camões - Instituto da Cooperação e da
Língua, do Programa da ONU para o Desenvolvimento e da Swissaid.
Durante os dois dias do encontro, dedicado ao tema "Renovar o
Compromisso com a Guiné-Bissau", vai ser debatido e analisado o trabalho
das organizações não-governamentais durante os últimos 20 anos e
definir metas de trabalho para o futuro.
Primeira reunião das ONGs foi em 1985
A primeira conferência de organizações não-governamentais foi realizada
pelo Ministério do Plano e Cooperação Internacional em 1985 para
planificar e coordenar a ajuda internacional não-governamental que era
atribuída à Guiné-Bissau.
Miguel de Barros
Segundo um estudo realizado em 2014 pelo sociólogo guineense Miguel de
Barros, o trabalho das organizações não-governamentais na Guiné-Bissau é
extremamente condicionado e salienta que aquelas organizações
"sobrevivem na base de financiamentos externos, sem conseguirem
ultrapassar as suas limitações em criar ou mobilizar fundos próprios e
internos".
"Este condicionalismo financeiro conduz à procura constante de
financiamento de projetos, em detrimento do cumprimento dos programas
institucionais, ou seja, as organizações envolvem-se em projetos que
muitas vezes não refletem a visão e missão desenhadas nos seus
estatutos", sublinha o sociólogo.
ONGs da Guiné-Bissau têm problemas de financiamento
As ONG na Guiné-Bissau conquistaram o seu espaço, o apoio da opinião
pública, mas continuam a ter problemas de financiamento e a falta de
apoio do Estado, disse o ex- presidente da Liga Guineense dos Direitos
Humanos.
"Houve diferentes momentos da inoperância do Estado que ajudou à
reafirmação no espaço, à conquista de espaço, pelas organizações
não-governamentais ao nível daquilo que é o reconhecimento da opinião
pública", afirmou Luís Vaz Martins.
Para o advogado guineense, é "incontestável" que as ONG têm o seu
próprio espaço e que "não colide com o que o Estado deve fazer como
responsável máximo pela realização dos direitos fundamentais".
Luís Vaz Martins
Mas, salientou, as ONG têm "dificuldades relacionadas com as fontes de
financiamento". "As ONG passaram a viver de projetos em concreto o que
fez com que as pessoas precisem de arranjar outro trabalho para viver e
se dediquem apenas em tempo parcial. Isso tem sido um fator muito
negativo para um maior desenvolvimento que se podia esperar no plano
nacional", salientou.
Ser fugitivo no seu próprio país
O guineense Luís Vaz Martins é um exemplo disso mesmo. Agora é advogado,
mas durante oito anos foi presidente da Liga Guineense dos Direitos
Humanos, o que lhe valeu perseguições, viver como fugitivo dentro do
próprio país e até fugir para Portugal.
"No contexto concreto em que estive a lidar com os destinos da
organização foram momentos de alguma violência. Uma coisa é termos
alguma instabilidade, mas com violência controlada, outra é violência na
sua máxima expressão, de perseguição das pessoas, da tentativa de
assassínios e de assassínio, e da própria perseguição permanente que me
obrigou a determinado momento a ser fugitivo no meu próprio país",
afirmou Luís Vaz Martins.
O advogado, de 45 anos, foi presidente daquela organização
não-governamental guineense entre 2007 e 2015 e apesar de continuar como
presidente da mesa do conselho nacional da Liga dos Guineenses do
Direitos Humanos teve de se dedicar à sua profissão para poder
sobreviver.
"A função é muito absorvente, além dos riscos, não é gratificante do
ponto de vista económico", afirmou, salientando que também segundo os
estatutos da organização só podia fazer dois mandatos.
Para Luís Vaz Martins, há uma vontade de fazer mudanças e um compromisso
conjunto dos cidadãos, chamados ativistas, de quererem contribuir. "Mas
isso não basta. Temos um Estado que financia zero por cento as ONG e
tem havido uma quebra considerável do financiamento das organizações
internacionais. Isto é um golpe muito duro na intervenção das
organizações não-governamentais na sociedade", disse.
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