Apesar de
Portugal ser apontado como o primeiro país de acolhimento de imigrantes
provenientes da Guiné-Bissau, a França é, na realidade, o principal receptor
desta população, disse
Flávio Baticã Ferreira, Presidente da comissão política do Partido Africano
para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) em França.
O fluxo
migratório de Bissau-guineenses para França iniciou em 1902, tendo estes
expatriados participado na Primeira Guerra Mundial integrados no corpo dos
denominados Tirailleurs
(Atiradores) senegaleses, cuja maioria destes militares era proveniente da
Guiné-Bissau, contou Flávio Ferreira. “Estes guineenses tinham imigrado para o
Senegal e acabaram nas trincheiras em França”, na guerra de 1914-1918, assim
como participaram na guerra de 1939-1945.
Apesar da
longa presença em França, e de ser uma “comunidade imensa”, explicou Flávio
Ferreira, os guineenses eram uma comunidade humilde, silenciosa, essencialmente
composta de operários que se diluíram na comunidade senegalesa. Outra vaga de
imigrantes da Guiné-Bissau aconteceu nas décadas de 1970 e 1980, e “a intenção
destes imigrantes, à qual pertenço”, disse Flávio Ferreira, “era receber
formação no estrangeiro e regressar à Guiné-Bissau, mas com a instabilidade no
país o regresso foi sempre adiado”.
Este
mosaico que caracteriza a comunidade Bissau-guineense em França está a viver
uma nova dinâmica com “a terceira e quarta geração dos guineenses, que permaneceram
em França como senegaleses, que querem agora regressar às suas origens e
reivindicar o seu património identitário Bissau-guineense, estando a
organizar-se em torno de associações e ONG”.
“Desde a
independência a Guiné-Bissau tem assistido a uma fuga constante dos seus
cérebros, os quais querem regressar mas adiam o retorno devido à instabilidade
política”, refere o líder do PAIGC em França que lembra que “os políticos
guineenses conhecem o potencial, poder económico e a influência que a diáspora
exerce na Guiné-Bissau”. “Houve quem tentasse regressar à Guiné-Bissau, mas
rapidamente caíram no sistema da corrupção generalizada e acabaram por
desistir”, lamentou.
“Não
queremos esperar mais por uma estabilização na Guiné-Bissau. Assim, na
diáspora, pretendemos ter uma atitude mais intervencionista virada para o nosso
país. Esta vontade deu um grande impulso ao PAIGC que mereceu uma particular
atenção de Domingos Simões Pereira”, explicou Flávio Ferreira.
A comissão
política do PAIGC em França foi criada em 2008 tendo sido Carlos Vieira Nóni,
sobrinho do antigo presidente “Nino” Vieira e actual embaixador da Guiné-Bissau
na Etiópia, eleito para a presidência. Flávio Ferreira assumiu a sucessão
através das eleições realizadas em Outubro de 2015.
A principal
missão a comissão política do PAIGC em França “é a difusão dos projectos e
propostas do PAIGC na diáspora assim como a sua governação”, mas também
“contribuir na construção da cidadania dos guineenses originários da
Guiné-Bissau através da aprendizagem da língua crioula e portuguesa, como
factor de integração social no regresso ao país”.
Pretendendo
destacar o papel da diáspora na Guiné-Bissau, Flávio Ferreira revelou à e-Global que uma
delegação do PAIGC de França vai participar no Congresso do partido em Bolama,
estando nessa ocasião prevista a apresentação de um projecto “ambicioso” que
pretende “transformar a Europa numa região eleitoral da Guiné-Bissau”. Para
reforçar esta iniciativa, Flávio Ferreira defende a criação de federações do
PAIGC na Europa.
“Inicialmente
o PAIGC era só uma comissão política em Paris. Começamos a abrir o projecto a
todas as regiões. Queremos agora transformar este conjunto numa Federação do
PAIGC em França com um bureau executivo sedeado em Paris, composto pelos
representantes das regiões francesas”, o qual deverá ser presidido por Flávio
Ferreira.
Segundo
Flávio Ferreira será igualmente proposto aos representantes do PAIGC em
Portugal e Espanha a formação de federações, “criando deste modo as condições
para ser constituída uma Federação do PAIGC na Europa” que permitirá
“estabelecer estratégias comuns na diáspora”.
Numa
segunda fase “iremos convidar os restantes partidos da Guiné-Bissau com
representação na Europa, tais como PRS, União para a Mudança e APU-PDGB, para
uma reunião em Paris onde iremos debater conjuntamente a viabilização da
criação de uma região eleitoral da Guiné-Bissau na Europa”.
O
presidente da comissão política do PAIGC em França sustenta que a Europa tem
condições para se transformar numa região eleitoral tendo em conta o número de
Bissau-guineenses residentes no continente.
“Estimamos
que cerca de 300 mil guineenses vivem Europa”, referiu Flávio Ferreira,
adicionando a este universo os guineenses da terceira e quarta geração
“chegaremos facilmente às 500 mil pessoas”. No entanto, “é necessário ter em
consideração também o volume das remessas da diáspora para a Guiné-Bissau”.
Assim, o factor humano e económico associados “justificam a presença de
deputados da Europa na Assembleia Nacional”.
“A minha
ambição é que o PAIGC França pese consideravelmente nas instâncias do PAIGC
Nacional, em termos de qualidade. Essa é uma das condições para que cada um de
nós veja reconhecido o seu direito pelos nossos dirigentes e que sejamos
consultados nas grandes decisões concernentes ao futuro do nosso país”,
precisou Flávio Ferreira, presidente da comissão política do PAIGC em França.
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