lunes, 16 de octubre de 2017

PAIGC França quer deputados da diáspora na Assembleia Nacional da Guiné-Bissau



Apesar de Portugal ser apontado como o primeiro país de acolhimento de imigrantes provenientes da Guiné-Bissau, a França é, na realidade, o principal receptor desta população, disse Flávio Baticã Ferreira, Presidente da comissão política do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) em França.
O fluxo migratório de Bissau-guineenses para França iniciou em 1902, tendo estes expatriados participado na Primeira Guerra Mundial integrados no corpo dos denominados Tirailleurs (Atiradores) senegaleses, cuja maioria destes militares era proveniente da Guiné-Bissau, contou Flávio Ferreira. “Estes guineenses tinham imigrado para o Senegal e acabaram nas trincheiras em França”, na guerra de 1914-1918, assim como participaram na guerra de 1939-1945.
Apesar da longa presença em França, e de ser uma “comunidade imensa”, explicou Flávio Ferreira, os guineenses eram uma comunidade humilde, silenciosa, essencialmente composta de operários que se diluíram na comunidade senegalesa. Outra vaga de imigrantes da Guiné-Bissau aconteceu nas décadas de 1970 e 1980, e “a intenção destes imigrantes, à qual pertenço”, disse Flávio Ferreira, “era receber formação no estrangeiro e regressar à Guiné-Bissau, mas com a instabilidade no país o regresso foi sempre adiado”.
Este mosaico que caracteriza a comunidade Bissau-guineense em França está a viver uma nova dinâmica com “a terceira e quarta geração dos guineenses, que permaneceram em França como senegaleses, que querem agora regressar às suas origens e reivindicar o seu património identitário Bissau-guineense, estando a organizar-se em torno de associações e ONG”.
“Desde a independência a Guiné-Bissau tem assistido a uma fuga constante dos seus cérebros, os quais querem regressar mas adiam o retorno devido à instabilidade política”, refere o líder do PAIGC em França que lembra que “os políticos guineenses conhecem o potencial, poder económico e a influência que a diáspora exerce na Guiné-Bissau”. “Houve quem tentasse regressar à Guiné-Bissau, mas rapidamente caíram no sistema da corrupção generalizada e acabaram por desistir”, lamentou.
“Não queremos esperar mais por uma estabilização na Guiné-Bissau. Assim, na diáspora, pretendemos ter uma atitude mais intervencionista virada para o nosso país. Esta vontade deu um grande impulso ao PAIGC que mereceu uma particular atenção de Domingos Simões Pereira”, explicou Flávio Ferreira.
A comissão política do PAIGC em França foi criada em 2008 tendo sido Carlos Vieira Nóni, sobrinho do antigo presidente “Nino” Vieira e actual embaixador da Guiné-Bissau na Etiópia, eleito para a presidência. Flávio Ferreira assumiu a sucessão através das eleições realizadas em Outubro de 2015.
A principal missão a comissão política do PAIGC em França “é a difusão dos projectos e propostas do PAIGC na diáspora assim como a sua governação”, mas também “contribuir na construção da cidadania dos guineenses originários da Guiné-Bissau através da aprendizagem da língua crioula e portuguesa, como factor de integração social no regresso ao país”.
Pretendendo destacar o papel da diáspora na Guiné-Bissau, Flávio Ferreira revelou à e-Global que uma delegação do PAIGC de França vai participar no Congresso do partido em Bolama, estando nessa ocasião prevista a apresentação de um projecto “ambicioso” que pretende “transformar a Europa numa região eleitoral da Guiné-Bissau”. Para reforçar esta iniciativa, Flávio Ferreira defende a criação de federações do PAIGC na Europa.
“Inicialmente o PAIGC era só uma comissão política em Paris. Começamos a abrir o projecto a todas as regiões. Queremos agora transformar este conjunto numa Federação do PAIGC em França com um bureau executivo sedeado em Paris, composto pelos representantes das regiões francesas”, o qual deverá ser presidido por Flávio Ferreira.
Segundo Flávio Ferreira será igualmente proposto aos representantes do PAIGC em Portugal e Espanha a formação de federações, “criando deste modo as condições para ser constituída uma Federação do PAIGC na Europa” que permitirá “estabelecer estratégias comuns na diáspora”.
Numa segunda fase “iremos convidar os restantes partidos da Guiné-Bissau com representação na Europa, tais como PRS, União para a Mudança e APU-PDGB, para uma reunião em Paris onde iremos debater conjuntamente a viabilização da criação de uma região eleitoral da Guiné-Bissau na Europa”.
O presidente da comissão política do PAIGC em França sustenta que a Europa tem condições para se transformar numa região eleitoral tendo em conta o número de Bissau-guineenses residentes no continente.
“Estimamos que cerca de 300 mil guineenses vivem Europa”, referiu Flávio Ferreira, adicionando a este universo os guineenses da terceira e quarta geração “chegaremos facilmente às 500 mil pessoas”. No entanto, “é necessário ter em consideração também o volume das remessas da diáspora para a Guiné-Bissau”. Assim, o factor humano e económico associados “justificam a presença de deputados da Europa na Assembleia Nacional”.
“A minha ambição é que o PAIGC França pese consideravelmente nas instâncias do PAIGC Nacional, em termos de qualidade. Essa é uma das condições para que cada um de nós veja reconhecido o seu direito pelos nossos dirigentes e que sejamos consultados nas grandes decisões concernentes ao futuro do nosso país”, precisou Flávio Ferreira, presidente da comissão política do PAIGC em França.

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